quarta-feira, 25 de maio de 2011

Novo olhar!


Rita é uma dessas mulheres que não teme a Felicidade. Está sempre se esquivando do sofrer. Os problemas, enfrenta com a sabedoria conquistada em anos de embates, vitórias e muitas derrotas. A mais difícil, a perda do filho de 38 anos, assassinado em 1998. Conhecemo-nos naquele ano, em meio a sua dor.  Pautada para mais uma reportagem sobre o drama de parentes da violência esbarrei naquela mulher linda, gestos largos, voz baixa e olhar penetrante.  Trocamos algumas palavras. Insisto na entrevista, ela se esquiva. Dias depois, telefone toca. Ela resolve contar sua história de saudade, incertezas na justiça, projetos para o neto, viagens, trabalho, marido.

Mantivemos amizade distante. Alguns telefonemas, raros encontros.
Dez anos depois, contato retomado, invado novamente o mundo de Rita, culpa de várias taças de vinho. Aos 75 anos, está sempre buscando desculpas para a alegria, o bem viver. Viúva há dois de seu querido português Augusto, não perde um minuto na ajuda aos necessitados e dedicação à família.  Está triste, bastam dois minutinhos com a bela e simpática senhora para mudar o humor. A conversa flui.

Os quadros do passado são pintados com ironia, talvez para disfarçar a nostalgia. De família classe média, casou-se aos 18 anos, teve dois filhos, sofreu a humilhação de ser traída. Abandonada pelo marido entrega os rebentos à mãe e embarca rumo ao Rio de Janeiro em uma aventura de 46 anos. De dia, trabalho como secretária de grande escritório de advocacia. À noite, festas, cassino, jantares com os amigos. Em uma dessas noitadas conhece Augusto, travam logo namoro. O casamento de 55 anos é realizado seis meses depois.

Empresário bem-sucedido, o português apresenta um novo mundo àquela jovem encantadora. Luxo, riqueza e amigos importantes. Mas ela gosta mesmo é da clientela de um dos salões de beleza do marido, por ela administrada. Bibi Ferreira, Mieli, Ari Toledo, Agildo Ribeiro e tantos outros artistas brasileiros. Com a maioria mantém a amizade. Só não quis conversa com Maísa.

Ciumenta como ela só, acompanha o marido em uma visita à cantora no Copacabana Palace Hotel. Augusto vai arrumá-la para uma apresentação na TV Tupi. Relembra Rita que foram recebidos por uma estonteante mulher seminua, o que a irritou profundamente. No dia seguinte, recebeu ligação da secretária da famosa cantora pedindo novo atendimento. Não contou pipoca, foi logo disparando impropérios contra a artista. Bibi Ferreira foi avisada do acontecido e ligou para sair em defesa da amiga de Maísa e tomar satisfações. Rita reafirmou as agressões e proibiu as duas famosas de freqüentarem o seu salão.

Assim é minha querida amiga. Não aceita desaforos, nem mesmo da vida. Tem uma maneira simples de encarar os acontecimentos. No álbum de fotos, momentos distintos e uma única mulher. Do passado, guarda a inconseqüência da juventude, amores, liberdade, comprometimento só com os sentimentos. Hoje, a serena da maturidade e velhice. Quem é velha? Rita grita para avisar que não faz parte do grupo da melhor idade. É sempre jovem, no máximo adulta.

Dividindo o tempo entre o trabalho voluntário na periferia de Fortaleza, cuidado com os netos e jantares regados a vinho e boa música, espera um novo amor, um novo Augusto. “Por que não? Estou viva e sempre pronta para a felicidade”, garante ela.  Ainda não encontrou, embora esteja sempre olhando como se fosse a primeira vez.

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