domingo, 13 de maio de 2012



Querida Bruxinha

Era uma vez... Assim começava minha mãe Lúcia a contar as estórias de princesinhas enfeitiçadas por bruxas malvadas, gatos de botas que percorriam quilômetros em um único salto, príncipes que viravam sapos, princesas adormecidas, peixes que falavam com os homens. Essas noites encantadas de nossa infância estão sendo revividas aqui, neste momento, nas fantasias de bruxa, princesa, fada, gangster, dançarinas, espanholas, heróis e heroínas de nossos sonhos...

 A Fada Madrinha, dos contos de minha mãe, tinha poderes e conhecia feitiços: transformava abóboras em carruagens, feras em belas, anões em gigantes, reis em sapos, fios de cabelo em correntes. Tomo emprestado de Rubem Alves, a lembrança de que não conhecia feitiço que fosse capaz de transformar canto de sapo em canto de sabiá. Pois esse milagre, lembra ele, somente os livros podem fazer, porque os livros põem música na alma. E é na alma que a mágica das estórias de Trancoso de nossas vidas transcende os sonhos, as ilusões, e se transforma em realidade.


Peço licença para contar a todos vocês uma história. Caberá a cada um      escolher se realidade ou um belo conto de fadas. A minha história começa assim: Era uma vez uma linda princesinha de cabelos cacheados, olhos pretos, sorriso fácil. Menina miúda de nariz arrebitado feito a Narizinho, de Monteiro Lobado, recebeu o nome de outra princesa, tirado das Mil e uma noites: Yasmin. A minha heroína não é filha de sultão, não tem um amigo macaco e nem viaja em tapetes mágicos.

A sua viagem é feita na ponta dos dedos. O meio de transporte: a sapatilha. No Demipliê, tandí, passé, pá de burrê ou no swing do jazz, essa menina-moça visita os mais longínquos mundos, atravessa mares, brilha com as estrelas, percorre distâncias nunca imaginados. No mundo da realidade, ela não precisa do gênio da lâmpada de Aladim, pois tem a fada madrinha que sempre transforma seus sonhos em realidade: sua mãe Suzana.

Feito outra princesa, a Xerazade, que enfeitiçou o sultão com suas estórias, a minha Yasmynhe enche nossas almas de coisas fascinantes, de carinho, alegria, vida. Das cartinhas inocentes escritas ao avô Chico, o grito por “mãe”, o carinho com a irmã Hannah, o sorriso para o Pedro, o pedido a “mãe Nini”, o amor incondicional ao pai Jorge. As birras com Tiago, o “Mamá”, quase todas as noites na janela de nossa sala.

Ah! Que delícia para os vizinhos tê-la como companhia. A família e os amigos sentem alegria em conversar com Yasmynhe. Pois quando ela fala, de sua boca saem lindas flores perfumadas e coloridas. Razão porque, só de pensar nela, todos sorriam...

Feliz aniversário, minha querida sobrinha, amiga, companheira, parceira.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Olhos que iluminam!

Tiago na cidade de Praga, capital da República Checa

Hoje acordei com saudade. Da correria em casa para evitar desastre iminente, dos gritinhos de gol, da quebra de braço com a babá Vaniza na hora das refeições, do “maaaaamãe, olha o passarim na janela”, do “Viiiittoooorrr”, da algazarra na hora do banho. Saudades do menino de olhos azuis-esverdeado que nos conduzia em tranquilas águas do mediterrâneo, velejando com segurança e alegria. 


Os anos passaram, precisamente 14, mas a travessia continua, com novas aventuras. Uma viagem a lugares nunca percorridos, assustadoramente belos. No fim de cada dia, o porto seguro, numa liberdade que permite a chegada da felicidade.


Sempre sereno, quase nunca se altera. Em uma casa de gente barulhenta, vozes sempre cortando o ar, correria, portas batendo, risadas, Tiago se mante calmo, manso, ordeiro. Convive pacificamente com a (des)organização do ambiente. Contraditoriamente, nunca foi coadjuvante na família. Sempre nos papéis principais.


Seria por ser observador atento dos fatos, não se omitir em opinar sobre os acontecimentos, desde os mais corriqueiros aos mais complicados envolvendo a parentada? Ou por não deixar uma pergunta sem resposta e encarar os mais velhos com confiança, sem intimidação, mas com um olhar tão meigo e carinhoso que nos induz a aceitar seus argumentos?


O seu poder de sedução nos leva, em alguns momentos, a quase histeria. Em outros, a êxtase. Continua estendendo os braços, hoje fortes, para a irmã Mariana no abraço carinhoso nos momentos de maior tensão entre os dois.  No afago a avó Lúcia, o sempre “sim” ao irmão Victor, não se importando de abrir mão de um desejo ou vontade.


Esse é meu amigo, companheiro, porto de partida e chegada. Meu nenenzinho. Meu filho, que tem provocado em mim, juntamente com Victor e Mariana, a necessidade de ser uma pessoa melhor. A transformação de humanas para “deusas” e bem-aventuradas que as mulheres fazem quando assumem a maternidade.


A saudade vai se transformando em alegria. Hoje, esse menino-moço, que começa a dar os primeiros passos na adolescência, soma com nossa família e amigos, muitos amigos, mais um ano de uma existência de semeaduras no bem, ternura, caridade, compreensão, desprendimento. 


Presa a esse amor e egoísta como toda mãe, recuso-me a aceitar o chamamento à realidade feito pelo escritor Gibran Khalil Gibran. Ele lembra que “vossos filhos não são vossos filhos. Eles vêm através de vós, e apesar de estarem convosco não vos pertencem. Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados na direção do alvo que o arqueiro vê no infinito”.


Enquanto meu filho Tiago não alça o vôo do pássaro livre, para longe, numa direção não sonhada, lembrada por Rubem Alves, vou me segurando aos seus carinhos, beijinhos jogados de longes, nos abraços apertados, no “boa noite, mamãe”, no “eu te amo, mamãe” ao encerrar a conversa ao telefone, na mentira carinhosa de “você é a mais linda de todas, mamãe”  afagando o meu ego. Continuo presa no menino crescido de olhos iluminados.
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