domingo, 8 de janeiro de 2012

Olhos que iluminam!

Tiago na cidade de Praga, capital da República Checa

Hoje acordei com saudade. Da correria em casa para evitar desastre iminente, dos gritinhos de gol, da quebra de braço com a babá Vaniza na hora das refeições, do “maaaaamãe, olha o passarim na janela”, do “Viiiittoooorrr”, da algazarra na hora do banho. Saudades do menino de olhos azuis-esverdeado que nos conduzia em tranquilas águas do mediterrâneo, velejando com segurança e alegria. 


Os anos passaram, precisamente 14, mas a travessia continua, com novas aventuras. Uma viagem a lugares nunca percorridos, assustadoramente belos. No fim de cada dia, o porto seguro, numa liberdade que permite a chegada da felicidade.


Sempre sereno, quase nunca se altera. Em uma casa de gente barulhenta, vozes sempre cortando o ar, correria, portas batendo, risadas, Tiago se mante calmo, manso, ordeiro. Convive pacificamente com a (des)organização do ambiente. Contraditoriamente, nunca foi coadjuvante na família. Sempre nos papéis principais.


Seria por ser observador atento dos fatos, não se omitir em opinar sobre os acontecimentos, desde os mais corriqueiros aos mais complicados envolvendo a parentada? Ou por não deixar uma pergunta sem resposta e encarar os mais velhos com confiança, sem intimidação, mas com um olhar tão meigo e carinhoso que nos induz a aceitar seus argumentos?


O seu poder de sedução nos leva, em alguns momentos, a quase histeria. Em outros, a êxtase. Continua estendendo os braços, hoje fortes, para a irmã Mariana no abraço carinhoso nos momentos de maior tensão entre os dois.  No afago a avó Lúcia, o sempre “sim” ao irmão Victor, não se importando de abrir mão de um desejo ou vontade.


Esse é meu amigo, companheiro, porto de partida e chegada. Meu nenenzinho. Meu filho, que tem provocado em mim, juntamente com Victor e Mariana, a necessidade de ser uma pessoa melhor. A transformação de humanas para “deusas” e bem-aventuradas que as mulheres fazem quando assumem a maternidade.


A saudade vai se transformando em alegria. Hoje, esse menino-moço, que começa a dar os primeiros passos na adolescência, soma com nossa família e amigos, muitos amigos, mais um ano de uma existência de semeaduras no bem, ternura, caridade, compreensão, desprendimento. 


Presa a esse amor e egoísta como toda mãe, recuso-me a aceitar o chamamento à realidade feito pelo escritor Gibran Khalil Gibran. Ele lembra que “vossos filhos não são vossos filhos. Eles vêm através de vós, e apesar de estarem convosco não vos pertencem. Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados na direção do alvo que o arqueiro vê no infinito”.


Enquanto meu filho Tiago não alça o vôo do pássaro livre, para longe, numa direção não sonhada, lembrada por Rubem Alves, vou me segurando aos seus carinhos, beijinhos jogados de longes, nos abraços apertados, no “boa noite, mamãe”, no “eu te amo, mamãe” ao encerrar a conversa ao telefone, na mentira carinhosa de “você é a mais linda de todas, mamãe”  afagando o meu ego. Continuo presa no menino crescido de olhos iluminados.
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