quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sacrifícios em nome de Deus!



Famílias de agricultores viram retirantes da sobrevivência. Animais
são levados pela fome e sede; as sementes plantadas na terra árida e
sequiosa não vingam. A fome ronda os lares humildes da pequena e
esquecida Saboeiro. As privações são grandes, mas seus moradores
apostam na penitência para se purificar dos pecados e conquistar um
lugar no reino de Deus. E na pior das hipóteses selar "acordos" com o
Pai em troca do jejum e de horas de ladainhas e rosários tirados de
joelho em frente aos altares da igreja matriz de Nossa Senhora da
Purificação.

E não tem período mais apropriado do que a Quaresma. O sinal da cruz
feito com cinzas na testa dá início ao período de 40 dias de
purificação. Na véspera, os moradores acompanham o carnaval das
crianças. Da radiola saem as machinas que embalam a matinê. Esse é o
único dia de festa pagã na cidade. Mas, essa é outra história.
Voltemos as rezas e penitências.

 A missa das 9h está lotada por fiéis dos distritos, vilas e fazendas.
Os devotos da padroeira lotam o templo do século XIX para ouvir os
ensinamentos do apóstolo dos gentios:  "Porque a tristeza de Deus
produz mudança… mas a tristeza do mundo produz morte”. II Co 7:10.

Para as crianças, a missa é enfadonha e sem graça. Elas bem que tentam
acompanhar a liturgia, mas o entusiamo se limita a imposição das
cruzes. Durante todo o dia se recusam a lavar o rosto para não tirar o
símbolo de penitência e arrependimento pelos pecados cometidos.

O mais complicado é entender a mortificação do jejum. Minha
mãe era adepta do sacrifício. Alimentava-se do mínimo para se manter
em pé e ter forças para rezar várias vezes ao dia, louvando,
agradecendo e pedindo graças a Deus. Em todos os lares, a abstinência
fazia parte do cotidiano de seus moradores no período da Quaresma.
Cabia, principalmente, as mulheres atender aos apelos da Igreja. Um
homem aqui, outro acolá fazem o sacrífico.

Nunca entendi essa penitência e a lógica da troca com o Criador.
Menina pequena questionava a culpa dessa gente, que enfrentava, com
resignação, a seca e a privação de alimentos e água. Hoje compreendo
que levavam consigo a fé cega e inexplicável, que acredita no Deus
punitivo. Para minha mãe, a mãe dela, a mãe da mãe da mãe..., o perdão
dos pecados vem com a penitência e oração.
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