domingo, 10 de julho de 2011

Passarinho com asas!



No entender do escritor francês Charles Péguy, os 40 anos são uma idade terrível. “É a idade em que nos tornamos naquilo que somos”. Penso eu: é o olhar para trás, a saudade do tempo de criança, do passarinho sem asas que ainda não viajou e fica a imaginá-la. 

Seria ele o adulto de Rubem Alves que viajou e fica feliz olhando as fotos da viagem? A viagem à meninice em Arneiroz, à mercearia Inhamuns, à rebeldia da adolescência no Colégio Rui Barbosa, os passeios com o pai ao rio Jaguaribe ou a mais aventureira e prazerosa delas, a paternidade.

Hoje é tempo de celebrar o pai amoroso de duas adolescentes, o filho generoso, o amigo leal, o homem viciado em trabalho. Pensaria ele em terras lusitanas estar envelhecendo aos 40. A maturidade, anunciada pelos primeiros fios de cabelos brancos encobertos pelo gel, é alentada por Fernando Pessoa. “Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, se o milênio é outro, se a idade aumenta. Conserva a vontade de viver. Não se chega à parte alguma sem ela".

Cabe a mim lembrar que o tempo é como o rio, não para. E com ele o desafio do caminhar, sonhar, do temor, das incertezas, da intensidade dos momentos, do viver coisas inexplicáveis e do conhecer pessoas que cruzam nossos caminhos por acaso ou ironia do destino.

Esse novo quarentão é fogo, fome, alegria. Fome de palavras, fogo de vida e otimismo no ser. Não tem tempo ruim que o impeça de acreditar, de buscar os ideais, de transcender a materialidade. Ensina-nos ele a amar o que nos foi dado e a viver o tempo que nos é permitido. Parece o sabiá de Manoel de Barros, no qual a ciência não pode medir os seus encantos e nem calcular quantos cavalos de força nele existe. “Quem acumular muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam”.

Com esse menino moço a travessia é mais tranqüila. No seu jeito de prosear, contar causos, a vida vai nos provocando, afetando. E criaturinhas, muito a conhecer, vamos nós aprendendo o manual de instrução para uma vida melhor. Lembra ele, é só seguir o rito e nele entrar. Difícil? Para o aniversariante de hoje é coisa simples. Basta se deixar levar. É o pacto da felicidade de Carlos Drummond de Andrade, que em seu dizer nos lembra de não“pensar no que não tenho e que gostaria de ter, mas em como posso ser feliz com o que possuo. E o maior bem que possuo é a própria vida”.

O que presentear? Livros, roupa de grife, aquela caneta de marca para enfeitar o rico terno, a gravata desfilada nas mais chiques passarelas? Muito provavelmente ganhará alguns desses, regados com vinho do Porto. Metida como só, uso a comunicação para mandar o meu regalo. É a reflexão da serenidade e do amor ao próximo de Mahatma Gandhi.

“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a fora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável. Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída”.

Feliz aniversário! 

Um comentário:

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