segunda-feira, 18 de julho de 2011

Entre sonho e realidade



F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway em um café com amigos

A cada filme, Woody Allen supera sua genialidade, se é que isso é possível. Em “Meia-Noite em Paris” esse homenzinho sem graça, feio e desengonçado nos leva a fantástica viagem aos anos 1920, a boemia esfuziante dos ateliês e cafés parisienses e encontro com a intelectualidade da época: Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Zelda e F.Scott Fitzgerald, Gertrud Stein, Cole Porter, Salvador Dalí e tantos outros.


Noite dessas entrei sem cerimônia no mundo da elegância pós guerra. Entre fantasia e realidade, lembrei-me de Welba, amiga de infância, e de sua vida, cujo enredo mais parece os devaneios de Gil, roteirista de Hollywood no filme, ou o drama do repórter Jake e sua paixão pela fútil Lady Brett Ashley em “O sol também se levanta”.


Tivesse Welba vivido os anos loucos na Cidade da Luz certamente seria personagem de  Hemingway, com seus conflitos, frustrações. Determinada e sem paciência, estava sempre correndo a procura de realizações. Engenheira bem-sucedida, transitava entre o real e a imaginação e se comprazia com as decepções amorosas.Entre um gole e outro de tequila, dizia sempre chegar atrasada nos relacionamentos.


- Por que os homens que me interessam estão sempre comprometidos?"

A pergunta era disparada a queima-roupa aos amigos à espera de resposta inteligente. Pensava eu no autor de “O velho e o mar”, que em seu dizer lembra que “o homem não é feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado”.


Porres, humilhações, mágoas. Anos de desencantos.Um dia, a bela mulher desencanta. Decide ser feliz. A primeira providência, zerar o passado e romper com o presente que tanta dor lhe causa. Terminou o romance de dois anos com o homem egoísta, indeciso e casado. Guardou luto por oito dias, como diz um amigo. Resolveu se amar por inteira, sem medos ou culpas.


Welba foi ao encontro da felicidade. Dedicou-se ao trabalho, viajou, saiu com amigos, vernissagens, praia, teatro, leitura, cinema, vida. Amou e foi amada diversas vezes. Chorou despedidas, riu nos encontros. Conheceu Carlos, divorciado, leal, companheiro. Com o médico sergipano, atravessou o Atlântico para desbravar os boulevares parisienses. Conta ela que está conhecendo um novo mundo: o da verdade, da entrega de duas pessoas diferentes que se respeitam.

- Sinto-me linda, desejada, amada". São os dizerem do cartão-postal enviado aos amigos que suportaram, anos a fio, suas reclamações e malquerenças. Trocou as noitadas de tequila por vinho e boa música, acompanhada por Cole Porter. Na solidão, Edith Piaf. Mas, poucos são esses momentos. Não tem tempo. Está procurando Henri Matisse, Luis Bruñel, Sartre...

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