quinta-feira, 7 de julho de 2011

Alegria do viver!


Vestida com blazer marrom, sapato escarpin preto, carteira fina, andar sereno. É a primeira lembrança que me vem de Branca Amélia, cuja elegância clássica nos transportava do árido sertão dos Inhamuns para os mais requintados salões europeus. Se é que isso é possível. Na infância, ficava eu a admirá-la atravessar as ruas de Aiuaba, cumprimentar homens e mulheres com esmero e delicadeza. Era, para mim, criança de apenas seis anos, a imagem de uma deusa descida à terra para nos banhar com o brilho de uma estrela hollywoodiana.


Anos mais tarde, essa senhora me ensinou a alegria da vida. Viúva, retornou a Saboeiro, onde passou a residir com a irmã solteira e uma filha de criação. Aos 75 anos, sofreu um acidente vascular cerebral. Perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo.  Meses entrevada na cama. A parentada se revezando nos cuidados com a senhora. Comida na boca, remédios com hora marcada, banhos no quarto.


No início, as visitas das amigas de reza, sobrinhos e afilhados eram tantas que atrapalhavam os afazeres da casa. Depois, as adolescentes da cidade, ai me incluo. Não sei como e nem quando, mas, todas as noites, visitas a dona Branca Amélia. Antes das tertulhas ou encontros na praça do parque, uma passada para risos, histórias.


Com o passar dos meses, a visão foi abandonando a devota de Nossa Senhora do Patrocínio, padroeira de Aiuaba, cidade a qual adotou décadas atrás. Quem esperava uma senhora triste ou rabugenta, engana-se. Não importava se em noites enluaradas ou chuvosas, lá estávamos nós, sentadas ao redor da cadeira de rodas, relatando o dia de banhos nos caldeirões, as brigas dos enamorados, as paqueras, estudos...


Aproveitava as férias escolares em Saboeiro para receber aulas de alegria, bom humor e aceitação. Em mais de dez anos de convivência, dona Branca Amélia nunca, mas nunca mesmo, maldisse da sorte, aos reversos da vida. Horas de boa conversa, conselhos, gargalhadas. Saíamos renovadas da casa rosa com portas amarelas. A mulher recebia a todos com muito entusiasmo, que aumentava com o passar das horas. Viajava nas histórias das meninas-mulheres, nas suas fantasias, sonhos.

Ela recebia a todos com muita alegria. Nada de conversas tristes. A velha senhora mantinha a altivez e serenidade. Não interessa se os de casa ou visitantes de longe. Ela sempre recebia com largo sorriso e palavras de carinho.

Nos dias de solidão ou quando as provas são mais difíceis e exigem coragem e determinação, lembro-me daquela bela senhora, do seu entusiamos e resignação. Nestes momentos, percebo o quanto sou privilegiada. Tive uma excelente professora de otimismo e  coragem. 

Um comentário:

  1. O otimismo é um produto em falta nas prateleiras dos grandes super, hipermercados da vida de pessoas que correm de um para outro lado, mas não sabem, ao certo, o que desejam. Bom demais estar com pessoas que esbanjam otimismo, que mesmo diante de tantas dificuldades estão sempre a sorrir, tanto que não consigo enxergar onde está seu problema. Elas não ligam para eles. Apenas vivem plenamente a vida...

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