sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Viver dói!

Fim de tarde. Burburinho que se transforma em algazarra. Repórteres em pauta, muitos outros produzindo textos. Editores montando informações. Planejamento, conversas, confirmação de dados. Redação agitada vai se transformando em quase caos na medida em que as horas passam e o fechamento da edição se aproxima. Em meio a esse maluco cenário, estão lá, três jornalistas, com diferentes idades e experiências, buscando entender os descaminhos e as provas que a vida lhe impôs.

Fogem ao vizinho restaurante para digerir suas dores, mágoas, angústias, incertezas, medos. Sentimentos solvidos entre um gole e outro de café com leite, refrigerante, queijo coalho, pamonha e pão de queixo. 
As três procurando respostas para as asperezas do caminho. A mãe, fortaleza da casa, preparando sua partida sem que se possa fazer em contrário; o amor não prometido que se recusa chegar, as doenças que teimam em desafiá-la, e por ai vai... É um rosário de lamentações.

Risos, olhos lacrimejando, perguntas sem respostas. Por alguns momentos, parecem encenar o monólogo de Hamlet, preferindo gemer e suar sob o peso de uma vida fatigante, vivendo o medo do que promete o futuro, talvez temendo voar para o desconhecido.

Buscavam elas o refúgio no dizer da outra, recusando o difícil viver. A calmaria aparente ameaçava explodir em lágrimas, indignação, rebeldia. Queriam elas transmutar a realidade do bem querer que se refugia no passado, assistindo o mundo se descolorir sem interrupção de seu curso.

Ah, essas mulheres jornalistas ou jornalistas mulheres, que vivem a paixão insaciável, no dizer de Gabriel Garcia Marques, reproduziam mais um drama de Nelson Rodrigues, no epílogo que a vida muito promete e tão pouco oferece.

Retornam à redação tentando escamotear o tempo dividido, querendo-o inteiro. Mas, concluem que esse tempo não existe e viver dói, contrariando Carlos Drummond de Andrade de que o sofrimento é opcional. “Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram”.
 

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