domingo, 28 de agosto de 2011

Tempos felizes



A mais encantadora calçada do mundo. Da casa de meus avós Manoelito e Mundinha
 
 Ainda hoje, em Saboeiro, o tempo teima em não querer passar. A televisão, internet, as motos gritando ladeira acima, ladeira abaixo, não conseguem competir com o marasmo da cidade. As pessoas continuam se esgueirando pelas esquinas, tentando se esconder do sol escaldante ou seria da própria vida? Dos tempos de minha infância, pouco mudou na rotina de sua gente. Os mais velhos teimam em manter o costume.

Enquanto o sol se põe no horizonte, mulheres e homens iniciam o ritual diário das cadeiras nas calçadas para acompanhar o vai e vem de crianças, adolescentes, das fofocas das comadres.  O jantar pontualmente às 17h30 para aproveitar, ao máximo, o presente divino da lua cheia, minguante, crescente, nova. Do céu estrelado anunciando a vida. Embalar-se no “ventinho de Aracati”. Da “boa noite” no sobe e desce de fiéis para a missa das 19 horas.

No entanto, do tempo de minha infância perdeu-se a inocência, as noites na pracinha Monsenhor Manoel Cândido, as tertulhas no Mercado Público, as serenatas na soleira das janelas, as paqueras entre um mergulho e outro nas águas do rio Jaguaribe, nas brincadeiras na loja da Socorro, dos guisados, piqueniques.   

Trocaram o rádio, orgulhosamente instalado na parte mais nobre da casa, pelo aparelho de TV. Abandonaram os cavalos como principal meio de transporte. Hoje, as meninas moças tentam imitar o estilo de vida de Xuxa, Angélica, Eliana, Ana Hickmann, Adriana Galisteu, Luciana Gimenez. Imitam suas roupas, trejeitos, gostos e equívocos. Seria o progresso chegando? Qual nada. É o lado negativo da globalização, que levou à pacata cidade a droga, prostituição.

Saudosista, prefiro a terra de minha infância e adolescência. Sábado era sempre um alvoroço. A cidade acordava cedo com o som dos carros que chegavam de outras paragens para a feira. Anunciavam o feijão verde colhido dias atrás, as melhores frutas e verduras vindas diretamente do Cariri. As alvejadas redes de tear feitas por mãos calejadas de mulheres e homens da cidade pernambucana de Caruaru eram anunciadas como as mais fortes do mundo.

Era uma gritaria só. A poluição sonora transformava a calmaria da cidade em uma grande farra. E para lá corriam meninos, adultos, velhos. As mulheres escolhendo os melhores produtos, enquanto os maridos faziam os negócios. As crianças apreciavam as guloseimas vendidas nas bancas montadas nas ruas do mercado, e os adolescentes aproveitam para as paqueras, intrigas, travar novas amizades. Fim da manhã, o grupo de jovens se reunia na lanchonete para conversar, beber, namorar. Estava eu sempre ao lado de minha irmã e algumas primas contando piadas, causos.

Saudades daquele tempo que volta sempre nos reencontros com os primos e amigos de infância. No almoço do último domingo, 21, quando nos reunimos com os irmãos de minha mãe e seus filhos, vivemos novamente a adolescência em Saboeiro nas lembranças das histórias ali passadas. Cada um de nós, puxando um fato e outro. Alegria de reviver tempos felizes.

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