domingo, 28 de agosto de 2011

Beth: vida intensa!

Ao ouvir Reynaldo Gianecchini falar sobre a quimioterapia como “tratamentinho” fiz uma viagem ao passado. Revi a querida amiga Beth, que por quase dez anos lutou contra o câncer. Na mama, nos ossos, no pulmão e rim. Foi derrotada pela doença e há cinco anos partiu para a pátria espiritual. Mas, ao contrário do que se pensa, foi vencedora, guerreira. Venceu o medo, desespero, a revolta.

Agarrou-se à vida, viveu intensamente as horas, minutos, segundos. Teve as pessoas ao seu lado por puro prazer da alegria e de fazê-las feliz. Tenho um orgulho danado da minha amiga. Nunca se maldisse ou fez queixumes da situação. Acredito que buscava forças no amor a única filha adolescente e ao marido, a quem devotava todos os momentos de seu tempo.

Serena, estava sempre sorrindo, prestativa. Nem os momentos mais difíceis, as dores, diagnósticos, tratamento, o cateter, as agruras a impediam de fazer planos. Parecia ela viver o tempo de Mário Quintana. "Se me fosse dada um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas".

Recordações felizes daquela mulher bonita, alta, pernas bem torneadas, olhos verdes, sorriso encantador. A dignidade com que encarava a doença me impressionava, instigava. Quase todos os finais de semana estávamos juntas. Sempre em festa, muito dificilmente no sofrimento. Porque Beth era alegria, parecia ela rir dos problemas, lutava pela saúde, abandonou o medo muito cedo.

Viveu os momentos, sentiu o prazer e a dor do viver. No sítio em Cascavel, nas descobertas de novos restaurantes nas noites de sábado, sol e mar na barraca Arpão, sua preferida, ou nas reuniões madrugada à dentro lá em casa, brindadas com vinho. Conversas sobre família, maridos, filhos, roupas, trabalho, planos, muitos planos fizemos juntas. Quase nunca se falou sobre a doença.

Parecíamos ter feito um pacto silencioso. O câncer só entrava em nossos encontros quando abdicávamos da taça de vinho (quando ela era impedida de sorver a bebida dos deuses por determinação médica, e eu me sentia também proibida. Passávamos a noite a pão e água) ou quando minha amiga não suportava ficar muito tempo sentada. Lá estávamos nós andando entre as mesas da pizzaria, restaurante, como que vigiando os clientes.

Beth vivia intensamente a filha adolescente, recém ingressa na universidade.  Sofria a sua dor, ria a sua alegria, sonhava os seus sonhos. Feito duas meninas, iam juntas ao salão de beleza, às compras, à praia. Conversavam. Pareciam elas duas em uma. Com o marido, sempre atenta para servi-lo. A comida que ele gostava, preparava sua roupa em cima da cama, buscava a toalha, a sandália. Ajudava nos preparativos dos aperitivos, levava a cerveja para que não precisasse sair da piscina. Sempre sorrindo, alegre.

Assim era minha amiga. Sempre presente. Talvez por estar próxima,servindo, esqueci eu de lembrar a essa criatura maravilhosa que é proibido deixar os amigos.

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