terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ele e elas!

Vinicius de Moraes ensina que “para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor”. No pensar e viver do comerciante Renato, a fidelidade não é amor. Para ele, amor é compartilhar. De preferência com muitas mulheres, ou pelo menos com três.
Infiel por natureza, vive maritalmente com Rosane, a irmã dela, Regiane, e uma prima das duas, Selma. As três aceitam o amor dividido do homem feio, deselegante e sem graça. Elas fogem ao ideal estereotipado do amor romântico ainda sonhado por jovens em pleno século XXI, ou da pregação das intelectualizadas que asseguram serem os homens inteligentes mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes.
Neste caso específico, Renato prefere ser burro, mas dividindo, ou somando, a cama e mesa com as amadas. E nem se dá ao trabalho de responder as mexeriqueiras de Saboeiro, que ficam a bisbilhotar a vida da família e especular sobre as noites quentes de verão na casa de oito cômodos.
As mulheres também parecem não se incomodar. Amigas, educam os filhos para aceitar a situação. Cada uma tem dois, para evitar desavenças. O importante é a paz familiar. Nas manhãs de feira, caminham com passos leves para o mercado. De mãos dadas, sorrisos de cumplicidade, escolhem o melhor para o marido e as crias. Vivem juntas, se dão bem, vão à luta e conhecem a dor. Como no dizer de Lulu Santos, consideram justa toda forma de amor.
Nas festas, Renato reserva para cada uma três danças. Assim, todas saem satisfeitas. Viagens, com a família. O problema é o transporte. Não dá todo mundo em um carro. Só de ônibus ou avião. Nas últimas férias escolares das crianças - a mais velha tem dez anos e o caçula, dois – arribaram para Juazeiro do Norte em uma caminhonete.
Aperto, calor, sufoco, irritação. Discussão à vista e o comerciante foi logo arranjando uma solução. No meio do caminho, alugou um carro pequeno para transportar as esposas. Ele e os filhos viajaram na caminhonete.
Na terra de padre Cícero, comprou passagem de avião para São Paulo. Um mês na cidade grande. As mulheres embarcaram nas poltronas ao lado dos filhos. O comerciante, lá atrás sozinho, pastoreando os seus. Na capital paulista, conta uma das filhas, foi muito ruim. As mães exigiam a atenção do homem, queriam passear no mesmo carro, os mesmos presentes. O negócio era voltar logo para o conforto do lar, a paz de casa. Retorno antecipado em 15 dias.
Muito conversê sobre o passeio. Uma ou outra reclamação que Renato resolve logo com um olhar severo. As mulheres baixam os olhos e saem para cuidar dos afazeres domésticos e dos cuidados com os filhos. E vão vivendo o manto negro da submissão, sem darem um jeito nessa torta condição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...