domingo, 3 de março de 2013


Reencontros

É preciso preparar a alma para o reencontro. Trazer de volta à memória do tempo as imagens perdidas na "estrada da vida". Adultos, relembram prazerosos as ladeiras de pedra portuguesa, os casarios do século XIX destruídos pela incompreensão de seus donos, as tertúlias nos salões de casas de família, os namoros escondidos e concedidos, o medo, as alegrias de uma infância livre, as primeiras letras no grupo escolar...

Homens e mulheres, realizados e muito a construir, preparam-se para reviver sentimentos que os aprisionam nas turvas águas do rio Jaguaribe, no galo na torre da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, nas festas no mercado público, nas novenas e passeios aos caldeirões. Presos ainda ao som dos tambores anunciando a festa de São Gonçalo no terreiro de terra batida em frente à casa do Antônio Luiz. A dança cortando a noite os atinge com a mesma emoção de outrora.

Parecem crianças que trazem dentro de si os sonhos grandiosos que cabiam na palma da mão e os faziam voar além da pequena Saboeiro. Seriam reféns do passado que insiste aprisioná-los? Ou estariam se alimentando do passado na desvairada ilusão de aprisioná-lo para recriá-lo, comendo    "aquilo que já deixou de existir", no compreender de Rubem Alves.

Não importam o que sejam. Querem o reencontro, as recordações e trazer, por alguns momentos, o Saboeiro de suas lembranças . Numa noite de sábado, entre vinhos, queijos, algazarra, garalhadas, flashs das máquinas fotográficas e celulares de última geração. Clélia, Graça, Suzana, Liduína, Eugênio, Ismêna, Maia, Vicente, Suzete,  Vanderbilt, Querubina, Jânio... ,em frações de segundos, materializam pessoas queridas que já retornaram ao plano espiritual e a vida que escorreu na caminhada.

Em meio a histeria daqueles adultos-crianças com suas histórias, lembradas e recontadas no barulho da emoção, vem-me a mente o dizer do escritor e jornalista Gabriel Garcia Marques: "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la". Acrescento, eu, cada um conta de acordo com o seu olhar e suas experiências. 

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